Livro compara 20 anos de cultura alternativa no RJ
Sexto
livro de Pedro de Luna, “coLUNAs” compila e analisa colunas dos anos 90 e 2000
para mostrar as mudanças no esporte e na cultura entre as duas décadas. O
lançamento acontecerá no dia 14, em comemoração ao Dia Mundial do Rock, com
três shows.
Corria os anos 90 e o fanzineiro Pedro de Luna cursava o curso de
comunicação social na UFF quando foi convidado a escrever uma coluna semanal
num jornal de Niterói, o LIG. Frequentador de shows e campeonatos de skate, o
jovem assinava a coluna Fique LIGado,
que tinha como inspiração a coluna Rio
Fanzine, editada por Tom Leão e Carlos Albuquerque no Segundo Caderno de O
Globo.
A primeira vez que Fique LIGado
foi publicada foi justamente no dia em que o Planet Hemp tocaria no (falecido)
Bedrock, em Charitas, e o show teve cobertura da equipe do fanzine Shape A, entre eles o fotógrafo Emerson
Pinto − hoje conhecido como DJ Nepal. A partir dali, Pedro noticiaria não
apenas shows, mas também campeonatos de surf e bodyboard, festas, debates, filmes,
convenções de tatuagem e tudo que estivesse ligado à cultura alternativa no Rio
de Janeiro. Motivado pela coluna e pelo zine, Pedro formou um raríssimo banco
de imagens de skate e shows da cena underground
no período de 1996 a
1998, que estão no livro coLUNAs, lançado no próximo dia 14 de julho, por
comemoração ao Dia Mundial do Rock.
Do final dos anos 90 estão ali registrados por data, mês e ano os shows
em Niterói de bandas como Planet Hemp, O Rappa, Raimundos, Charlie Brown Jr,
Garotos Podres, Pavilhão 9, Black Alien, Funk Fuckers, Racionais MC, Matanza e
tantas outras bandas da época. “No caso do Planet e dos Raimundos, eu também
gravei as apresentações em vídeo e um dia pretendo lançar em formato de
documentário”, completa o repórter.
A coluna Fique LIGado fazia
muito sucesso e só terminou por que, no fim de 1998, Pedro mudou−se para São
Paulo. Porém, 10 anos depois, em 2008, ele retomou a colaboração no LIG, numa
coluna com o seu próprio nome e um espaço muito maior. “Eu voltei de São Paulo
em 2002 e em 2003 criei o movimento Arariboia Rock. Comecei a organizar shows e
a escrever muito, para vários veículos. Então, em 2008, apresentava um programa
de rádio quando assumiu a coordenação da emissora o jornalista Luiz Antonio
Mello, que escrevia para o LIG, e me convidou para voltar”.
Não à toa, a apresentação de coLUNAs é escrita por Luiz Antonio Mello e por
Tom Leão, duas referências para Pedro, que entre 1993 e 1994 foi estagiário na
Fluminense FM. O livro também é dedicado ao músico e produtor cultural Rafael
Lage, assassinado no dia 28 de maio, durante uma tentativa de assalto a um bar
no Ingá, em Niterói. “Organizei vários shows onde o Rafael tocou, ele sempre
gostou muito de música e de jornalismo. Coincidência ou não, a primeira coluna
de 2008 tem uma foto dele”. O LIG acabou em 2010, com a morte do seu fundador
Fernando Marcondes Ferraz.
Em 2008, a
cena independente estava completamente diferente, em vários aspectos. Se em
1996 o telefone tinha prefixo com três dígitos e o máximo da modernidade era o pager e o fax, dez anos depois havia uma
democratização do e−mail, da internet e, sobretudo, da máquina fotográfica
digital. “Ainda não existia o smartphone,
mas agora todo mundo podia fotografar e filmar os eventos”, conta o autor.
“Então, nessa segunda fase, eu mesmo fazia as fotos para usar no jornal”.
Ainda no âmbito da tecnologia, Pedro destaca como uma revolução o CD−R,
o CD regravável. “No final dos anos 90 ainda tinha banda lançando fita demo em
k7 e sonhando com o CD. Já no final dos anos 2000, toda e qualquer banda podia
divulgar seu trabalho neste formato”. O livro compara todas as características
da cena alternativa do Rio de Janeiro entre os períodos de 1996 a 1998 e 2008 a2009.
“Dez anos são sempre dez anos, mas de 98 para 2008 o salto foi incrível”.
Pedro lembra também que, nos anos 90, as bandas de sucesso da época
vendiam um milhão de discos e se divulgavam através das rádios e da MTV. Uma
década depois, uma nova geração (Pitty, Los Hermanos, NX Zero, Vanguart,
Fresno, Ramirez etc) estava em evidência e as mídias do momento eram o Fotolog,
o Orkut e o My Space. “O Facebook surge uns dois anos depois juntando tudo e
enterrando a concorrência. Mas nesse período de 2008 e 2009 a comunicação por
e−mail e pelas redes sociais já era muito intensa”, explica.
Outra mudança interessante foi na forma de se produzir os eventos. Se
nos anos 90 os shows aconteciam por todos os bairros, de forma bastante
eclética, com as bandas de estilos variados, juntando forças e levando elas
mesmas os equipamentos, nos anos 2000 há uma segmentação por gêneros musicais,
os equipamentos são sempre alugados pelo produtor e grupos novos começam a
pagar para abrir shows de grupos já consolidados. “Um dos shows que eu noticiei
contava com 14 bandas de abertura para uma banda de São Paulo que tocou em São
Gonçalo. Muito diferente dos anos 90, mais romântico, onde rolavam vários shows
gratuitos ou com arrecadação de alimentos para a campanha contra a fome,
capitaneada pelo Betinho”.
Também vale destacar os diferentes momentos nos circuitos estudantis. Se
no final dos anos 90 aconteciam muitas festas de escolas e universidades,
inclusive festivais de bandas de colégio, no final dos anos 2000 há uma grande
apatia. “Um exemplo está na própria UFF. Nos anos 90 aconteciam muitas festas
dentro e fora do ambiente universitário, porém, no final dos anos 2000, mesmo
tendo um curso de produção cultural, havia uma repressão interna e menos
eventos”. Pedro acredita que isso tenha ligação também com a mudança de
motivação principal na noite. “Ali em 1997 já rolam festas com bebida liberada,
mas em 2008 o álcool torna−se a atração principal, e os shows apenas um
acessório. Daí a proliferação de cervejas do rock, tequiladas do rock etc”.
Uma constatação interessante em coLUNAs é que nos anos 90 surgem as
feiras de moda alternativa − como Mercado Mundo Mix e Babilônia Feira Hype − e
os festivais de música para promoção de marcas, como o Free Jazz, o Fest Valda,
o Skol Rock, o Close Up Planet e tantos outros. “Sem dúvida, nos anos 90 a indústria fonográfica era
uma fábrica de dinheiro. Nos anos 2000, o golpe veio com a pirataria de CDs e o
declínio do DVD, com a popularização da internet e da TV paga. Antes, para
assistir a um show de banda estrangeira, rolavam sessões fechadas e pagas com
exibição de fitas VHS raras por aqui”.
O livro coLUNAs, o sexto
de Pedro, foi lançado pela sua própria editora e pode ser adquirido pelo ilustrebrasil.com.br
https://www.facebook.com/nomundodoLUNA/