terça-feira, 28 de junho de 2011

Matéria no site d´O Globo hoje, 28/06/2011


http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2011/06/27/sex-noise-volta-dos-mortos-em-homenagem-do-circo-voador-ao-underground-carioca-dos-anos-1990-924771449.asp

RIO - O Circo Voador celebra nesta terça-feira a década de 1990, época em que o rock carioca tinha duas características marcantes: o ecletismo no som e a amizade entre as bandas. O evento Zine Voador terá apresentação dos grupos Sex Noise e Xará e lançamento do livro "Niterói Rock Underground (1990-2010)", do ex-fanzineiro Pedro de Luna.

Formado em 1992, o Sex Noise fez sucesso no underground carioca numa época em que o rock fervilhava na cidade, com uma cena forte surgida em torno do antigo Garage e do próprio Circo Voador. O vocalista Larry Antha deixa claro que o show não é uma apresentação especial e que a banda voltou para ficar. Ele diz que nunca parou de compor e está negociando com a MultiFoco para lançar uma coletânea dos 16 anos do grupo. Além do show desta terça, eles tocam também no dia 2 de julho no Audio Rebel, em Botafogo, junto com Beach Lizards e Ack, outras bandas da mesma época.

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VÍDEO: Relembre 'Franzino costela', do Sex Noise, em um show de 1996 no Circo Voador

- A gente compõe muito, mas ainda não parou para ver o que cada um tem na manga. Nesse primeiro momento estamos mais preocupados em fazer os shows, ensaiar e lembrar as músicas - explica.

O vocalista ficou conhecido pelo cabelo azul e as performances histriônicas no palco, que muitas vezes lembravam Iggy Pop. Ele não se afastou do mundo da música durante o hiato da banda, mas ficou distante do rock, trabalhando com produção de artistas de MPB, como Ana Rato. O caminho não surpreende quem se lembra da diversidade de sons que havia no underground carioca do início dos anos 90.

- Tenho ido às festas e todo mundo sente falta da energia, da diferença entre as bandas. O mundo mudou, a internet ajuda muito, mas a cena ficou pasteurizada - critica - Todo mundo quer ser o Los Hermanos, o NX Zero. O mercado é tão limitado, que quando aparece uma fórmula que dá certo, todo mundo faz aquilo. E não só no rock.

Para ele sempre há espaço para a criatividade, pois o grande sucesso chega para quem faz algo que ninguém mais esteja fazendo.

- Tudo é sorte e momento. Mesmo com os Beatles foi assim: a banda certa, no momento certo. As pessoas estavam de saco cheio do pós-guerra, todo mundo querendo alegria - teoriza.

Além do ecletismo, a cena do início dos anos 1990 também tinha como carcaterística a amizade entre bandas de vários estilos. Para Larry, isso faz falta hoje em dia.

- (Na época) a gente ia nos shows uns dos outros, porque eramos fãs uns dos outros. Hoje não tem isso. A banda emo não se relaciona com a cena anterior ou com outras cenas e isso não existe. Você tem que se relacionar.

A primeira gravação do Sex Noise foi em 1996, na coletânea Paredão, que reuniu vários grupos daquela mesma geração, como Kamundjangos (que virou Los Djangos) e Plínio Profeta, do infame hit "Eliane Galileu".

Nesse disco eles gravaram a canção "Franzino Costela (eu apanhava todo dia!)", o grande sucesso da banda, atualíssimo nesses tempos de discussão sobre bullying e violência familiar. A música ganhou um clipe que chegou a ter execução na MTV e hoje pode ser encontrado no YouTube. Com a música, as portas se abriram e o grupo fez várias apresentações no Rio e em outras cidades.

Mas hoje Larry considera que o circuito de casas de show se fechou novamente. Na época havia o Garage, o Ballroom e o Circo Voador. Atualmente há apenas lugares (ainda) menores, como o Heavy Duty e o Audio Rebel. Além da falta de opções, ele critica também o alto peço dos shows.

- As pessoas querem cobrar R$ 30 num show alternativo de banda nova e aí o público não vai. Em São Paulo a nova cena se criou quando Tulipa Ruiz, Marcelo Geneci e outros apareceram tocando às quartas-feiras com entrada franca. Isso cria a rotina de toda semana o público ver aquelas pessoas, aqueles artistas.

Larry também escreveu um livro sobre a cena do início dos anos 1990, "Memórias não-póstumas de um punk", que será lançado no dia 28 de julho na Multifoco. No livro ele conta histórias da banda e das amizades com a turma do Planeta Hemp, Gangrena Gasosa, Piu Piu e sua Banda, De Falla, entre outros. Ele lamenta que alguns desses grupos não tenham tido o espaço merecido.

- Tinha muita gente legal na época que ficou para trás. O Piu Piu fazia o Mamonas antes dos Mamonas. Los Djangos poderia ter virado outro Paralamas. Poindexter é uma banda sensacional, depois virou o Jason. Ele tinha um vocal muito similar ao Chorão, do Charlie Brown. A gente podia ter ficado entre o Titãs e o Nirvana - avalia.

Apesar de não ter alcançado sucesso nacional nem emplacado outras músicas no rádio, a Sex Noise é considerada uma das principais bandas de sua geração. Prova disso está no documentário "Dias de Rock", com depoimentos de gente como Marcelo D2, Pitty, Marcelo Camelo e Bnegão sobre o grupo. O filme não é brilhante, mas dá um bom panorama do rock carioca da época. Ele pode ser conferido na íntegra no YouTube .

A banda terminou quando o guitarrista Alex Dusky resolveu se dedicar ao cinema, em 2006. A formação atual conta com dois membros originais, o vocalista Larry Antha e o baterista Walan Falcão. Alê ocupa o lugar de Mário Jr no baixo enquanto Marcelo e Luís Claudio tocam as guitarras.

O evento desta terça-feira é gratuito e restrito a 500 pessoas. Para participar, é preciso enviar o nome para a lista zinevoador@circovoador.com.br. Haverá também pintura ao vivo com Vagner Donasc e Wilbor e vídeos de skate no telão. Os trabalhos começam às 20h30m.


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