quinta-feira, 11 de junho de 2015

Íntegra da matéria publicada na Revista Trip de junho de 2015




Sem vergonha na hora de passar o chapéu

Crowdfunding: a vaquinha virtual moderna conquistou os brasileiros


Por Pedro de Luna


Foi−se o tempo em que pedir dinheiro em público era motivo de vergonha. Grandes artistas, pessoas comuns, empresas e instituições já aderiram ao financiamento coletivo, ou crowdfunding. Mas passados quatro anos desde as primeiras plataformas para captação de recursos no Brasil, por que alguns projetos são bem sucedidos e outros não?

Para Tahiana D'Egmont, CEO da Kickante, fundada em 2013 e que captou cerca de R$ 4 milhões em mais de 1.000 campanhas, “quanto melhor a divulgação para o universo de interessados, mais bem-sucedida é”. Elementos como um bom texto e boa representação visual do projeto também são muito importantes.


Na plataforma Catarse, criada em 2011, ou bate a meta ou o projeto não recebe nada. A diferença entre uma campanha bem sucedida ou não está no bom planejamento. Quem estuda o modelo e a plataforma, planeja bem e executa com dedicação tem mais chances. Daí o fato que 90% dos R$ 29 milhões recebidos até hoje foram para 54% dos projetos.

O financiamento coletivo é uma troca, e toda cota de apoio envolve uma recompensa, mesmo que seja uma contrapartida simbólica. Na música, costumam dar certo a pré−venda de CDs e DVDs novos, por chegar ao fã autografado e antes do mercado, além de experiências únicas como ir ao camarim ou jantar com o ídolo.

O público também precisa acreditar que é possível conseguir a grana dentro do prazo estipulado. “O projeto tem que ter o tamanho da banda ou do artista. Uma boa ideia pode até chamar a atenção, mas precisa de respaldo”, opina Rodrigo Lima, vocalista do Dead Fish. “Esta é a forma mais honesta e direta de fazer algo acontecer”. Sua banda precisava de R$ 60 mil para gravar o novo álbum, Vitória. Levantou R$ 260 mil.



Leandro Delmonico, guitarrista da banda Charme Chulo, o segredo é ter fãs fiéis mesmo que em pequena quantidade. “Mas não é nada fácil convencer uma pessoa a parar o que está fazendo para ler a sua proposta, entrar no site, escolher uma recompensa e ainda pagar”. Mesmo levantando R$ 30 mil para gravar um CD duplo, ele não pretende repetir a fórmula. “Não por birra, mas por manter aquele segredo bacana de um trabalho novo”.

Com 18 álbuns e três DVDs no currículo, até a cantora Leila Pinheiro aderiu ao novo formato para viabilizar um EP com quatro músicas. Ela oferece recompensas que incluem até uma tarde no estúdio. Na página da campanha, há uma descrição detalhada de onde e como serão gastos todos os R$ 95 mil.

Equipe do Catarse

Quem também aderiu foi a turma das histórias em quadrinhos, terceira categoria com mais projetos na Catarse, atrás apenas de música e cinema/vídeo. Para o quadrinista Pedro Balboni, o que atrai é a possibilidade de viabilizar financeiramente o projeto antes mesmo de existir. Em 2012 ele tinha lançado apenas um livro. Aderiu ao crowdfunding e, em, 2014 já eram cinco. Ele quer fechar com 2015 com nove títulos publicados.

No esporte, a saltadora e campeã olímpica Maureen Maggi corria o risco de não participar das olimpíadas de 2016 por falta de patrocínio para os treinos. Ela realizou uma campanha e, graças aos fãs, já confirmou a presença na competição. O projeto Fixando Raízes WinBelemDon, que integra crianças através do tênis em Porto Alegre, bateu o recorde para projetos do terceiro setor, arrecadando mais de R$ 275 mil. Um dos trunfos foi conseguir padrinhos como Fernando Meligeni e Gustavo Kuerten. O espanhol Rafael Nadal e o escocês Andy Murray doaram raquetes e camisetas para serem usadas como recompensa.

Até mesmo o Greenpeace já realizou quatro campanhas, desde a instalação de sistema fotovoltaico em escolas até a recuperação do navio Artic Sunrise. Ou seja, nestes últimos quatro anos, quando o assunto é solidariedade ao próximo, os brasileiros batem um bolão.

Charme Chulo (PR)


CURIOSIDADES:
  • No Brasil, as áreas mais financiadas pelo público são música, literatura, jogos e inovação.
  • A maioria dos apoiadores do novo disco do Dead Fish, Vitória, comprou a cota de R$ 55 que dá direito ao disco e uma camiseta.
  • O quadrinista Will Leite levantou R$ 30 mil em apenas dois dias para fazer um livro com tiras do seu blog.
  • O jogo de tabuleiro Caçadores da Galáxia arrecadou R$ 25 mil em apenas trinta minutos de captação.
  • Bel Pesce, autora do livro Legado: a menina do Vale detém o recorde nacional, sua campanha conseguiu R$ 889 mil.
  • O jogo A Lenda do Herói, baseado em uma série viral do YouTube, recebeu apoio de 6.000 pessoas.
  • Na Catarse, a faixa mais popular de apoio é entre R$ 20 e R$ 29 e o apoio médio por usuário é de R$ 141. Quanto melhor a recompensa, maior o valor apoiado.
  • A pesquisa Retrato do Financiamento Coletivo no Brasil 2013−2014 apontou que educação é a categoria que as pessoas tinham mais interesse em apoiar, e ao mesmo tempo a que mais faltavam projetos relevantes.

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