Sem
vergonha na hora de passar o chapéu
Crowdfunding:
a vaquinha virtual moderna conquistou os brasileiros
Por Pedro de Luna
Foi−se o tempo em que pedir
dinheiro em público era motivo de vergonha. Grandes artistas, pessoas comuns,
empresas e instituições já aderiram ao financiamento coletivo, ou crowdfunding. Mas passados quatro anos
desde as primeiras plataformas para captação de recursos no Brasil, por que
alguns projetos são bem sucedidos e outros não?
Para Tahiana D'Egmont, CEO
da Kickante, fundada em 2013 e que captou cerca de R$ 4 milhões em mais de
1.000 campanhas, “quanto melhor a divulgação para o universo de interessados,
mais bem-sucedida é”. Elementos como um bom texto e boa representação visual do
projeto também são muito importantes.
Na plataforma Catarse,
criada em 2011, ou bate a meta ou o projeto não recebe nada. A diferença entre
uma campanha bem sucedida ou não está no bom planejamento. Quem estuda o modelo
e a plataforma, planeja bem e executa com dedicação tem mais chances. Daí o
fato que 90% dos R$ 29 milhões recebidos até hoje foram para 54% dos projetos.
O financiamento coletivo é
uma troca, e toda cota de apoio envolve uma recompensa, mesmo que seja uma
contrapartida simbólica. Na música, costumam dar certo a pré−venda de CDs e
DVDs novos, por chegar ao fã autografado e antes do mercado, além de
experiências únicas como ir ao camarim ou jantar com o ídolo.
O público também precisa
acreditar que é possível conseguir a grana dentro do prazo estipulado. “O
projeto tem que ter o tamanho da banda ou do artista. Uma boa ideia pode até
chamar a atenção, mas precisa de respaldo”, opina Rodrigo Lima, vocalista do
Dead Fish. “Esta é a forma mais honesta e direta de fazer algo acontecer”. Sua
banda precisava de R$ 60 mil para gravar o novo álbum, Vitória. Levantou R$ 260 mil.
Leandro Delmonico, guitarrista
da banda Charme Chulo, o segredo é ter fãs fiéis mesmo que em pequena
quantidade. “Mas não é nada fácil convencer uma pessoa a parar o que está
fazendo para ler a sua proposta, entrar no site, escolher uma recompensa e
ainda pagar”. Mesmo levantando R$ 30 mil para gravar um CD duplo, ele não
pretende repetir a fórmula. “Não por birra, mas por manter aquele segredo
bacana de um trabalho novo”.
Com 18 álbuns e três DVDs
no currículo, até a cantora Leila Pinheiro aderiu ao novo formato para
viabilizar um EP com quatro músicas. Ela oferece recompensas que incluem até
uma tarde no estúdio. Na página da campanha, há uma descrição detalhada de onde
e como serão gastos todos os R$ 95 mil.
Quem também aderiu foi a
turma das histórias em quadrinhos, terceira categoria com mais projetos na
Catarse, atrás apenas de música e cinema/vídeo. Para o quadrinista Pedro
Balboni, o que atrai é a possibilidade de viabilizar financeiramente o projeto
antes mesmo de existir. Em 2012 ele tinha lançado apenas um livro. Aderiu ao crowdfunding e, em, 2014 já eram cinco.
Ele quer fechar com 2015 com nove títulos publicados.
No esporte, a saltadora e
campeã olímpica Maureen Maggi corria o risco de não participar das olimpíadas
de 2016 por falta de patrocínio para os treinos. Ela realizou uma campanha e,
graças aos fãs, já confirmou a presença na competição. O projeto Fixando Raízes
WinBelemDon, que integra crianças através do tênis em Porto Alegre, bateu o
recorde para projetos do terceiro setor, arrecadando mais de R$ 275 mil. Um dos
trunfos foi conseguir padrinhos como Fernando Meligeni e Gustavo Kuerten. O
espanhol Rafael Nadal e o escocês Andy Murray doaram raquetes e camisetas para
serem usadas como recompensa.
Até mesmo o Greenpeace já
realizou quatro campanhas, desde a instalação de sistema fotovoltaico em
escolas até a recuperação do navio Artic Sunrise. Ou seja, nestes últimos
quatro anos, quando o assunto é solidariedade ao próximo, os brasileiros batem
um bolão.
CURIOSIDADES:
- No Brasil, as áreas mais financiadas pelo público são música, literatura, jogos e inovação.
- A maioria dos apoiadores do novo disco do Dead Fish, Vitória, comprou a cota de R$ 55 que dá direito ao disco e uma camiseta.
- O quadrinista Will Leite levantou R$ 30 mil em apenas dois dias para fazer um livro com tiras do seu blog.
- O jogo de tabuleiro Caçadores da Galáxia arrecadou R$ 25 mil em apenas trinta minutos de captação.
- Bel Pesce, autora do livro Legado: a menina do Vale detém o recorde nacional, sua campanha conseguiu R$ 889 mil.
- O jogo A Lenda do Herói, baseado em uma série viral do YouTube, recebeu apoio de 6.000 pessoas.
- Na Catarse, a faixa mais popular de apoio é entre R$ 20 e R$ 29 e o apoio médio por usuário é de R$ 141. Quanto melhor a recompensa, maior o valor apoiado.
- A pesquisa Retrato do Financiamento Coletivo no Brasil 2013−2014 apontou que educação é a categoria que as pessoas tinham mais interesse em apoiar, e ao mesmo tempo a que mais faltavam projetos relevantes.
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