domingo, 31 de dezembro de 2017

"coLUNAs" compara 20 anos de cultura alternativa no RJ


Livro compara 20 anos de cultura alternativa no RJ
Sexto livro de Pedro de Luna, “coLUNAs” compila e analisa colunas dos anos 90 e 2000 para mostrar as mudanças no esporte e na cultura entre as duas décadas. O lançamento acontecerá no dia 14, em comemoração ao Dia Mundial do Rock, com três shows.

Corria os anos 90 e o fanzineiro Pedro de Luna cursava o curso de comunicação social na UFF quando foi convidado a escrever uma coluna semanal num jornal de Niterói, o LIG. Frequentador de shows e campeonatos de skate, o jovem assinava a coluna Fique LIGado, que tinha como inspiração a coluna Rio Fanzine, editada por Tom Leão e Carlos Albuquerque no Segundo Caderno de O Globo.

A primeira vez que Fique LIGado foi publicada foi justamente no dia em que o Planet Hemp tocaria no (falecido) Bedrock, em Charitas, e o show teve cobertura da equipe do fanzine Shape A, entre eles o fotógrafo Emerson Pinto − hoje conhecido como DJ Nepal. A partir dali, Pedro noticiaria não apenas shows, mas também campeonatos de surf e bodyboard, festas, debates, filmes, convenções de tatuagem e tudo que estivesse ligado à cultura alternativa no Rio de Janeiro. Motivado pela coluna e pelo zine, Pedro formou um raríssimo banco de imagens de skate e shows da cena underground no período de 1996 a 1998, que estão no livro coLUNAs, lançado no próximo dia 14 de julho, por comemoração ao Dia Mundial do Rock.

Do final dos anos 90 estão ali registrados por data, mês e ano os shows em Niterói de bandas como Planet Hemp, O Rappa, Raimundos, Charlie Brown Jr, Garotos Podres, Pavilhão 9, Black Alien, Funk Fuckers, Racionais MC, Matanza e tantas outras bandas da época. “No caso do Planet e dos Raimundos, eu também gravei as apresentações em vídeo e um dia pretendo lançar em formato de documentário”, completa o repórter.


A coluna Fique LIGado fazia muito sucesso e só terminou por que, no fim de 1998, Pedro mudou−se para São Paulo. Porém, 10 anos depois, em 2008, ele retomou a colaboração no LIG, numa coluna com o seu próprio nome e um espaço muito maior. “Eu voltei de São Paulo em 2002 e em 2003 criei o movimento Arariboia Rock. Comecei a organizar shows e a escrever muito, para vários veículos. Então, em 2008, apresentava um programa de rádio quando assumiu a coordenação da emissora o jornalista Luiz Antonio Mello, que escrevia para o LIG, e me convidou para voltar”.

Não à toa, a apresentação de coLUNAs é escrita por Luiz Antonio Mello e por Tom Leão, duas referências para Pedro, que entre 1993 e 1994 foi estagiário na Fluminense FM. O livro também é dedicado ao músico e produtor cultural Rafael Lage, assassinado no dia 28 de maio, durante uma tentativa de assalto a um bar no Ingá, em Niterói. “Organizei vários shows onde o Rafael tocou, ele sempre gostou muito de música e de jornalismo. Coincidência ou não, a primeira coluna de 2008 tem uma foto dele”. O LIG acabou em 2010, com a morte do seu fundador Fernando Marcondes Ferraz.

Em 2008, a cena independente estava completamente diferente, em vários aspectos. Se em 1996 o telefone tinha prefixo com três dígitos e o máximo da modernidade era o pager e o fax, dez anos depois havia uma democratização do e−mail, da internet e, sobretudo, da máquina fotográfica digital. “Ainda não existia o smartphone, mas agora todo mundo podia fotografar e filmar os eventos”, conta o autor. “Então, nessa segunda fase, eu mesmo fazia as fotos para usar no jornal”.

Ainda no âmbito da tecnologia, Pedro destaca como uma revolução o CD−R, o CD regravável. “No final dos anos 90 ainda tinha banda lançando fita demo em k7 e sonhando com o CD. Já no final dos anos 2000, toda e qualquer banda podia divulgar seu trabalho neste formato”. O livro compara todas as características da cena alternativa do Rio de Janeiro entre os períodos de 1996 a 1998 e 2008 a2009. “Dez anos são sempre dez anos, mas de 98 para 2008 o salto foi incrível”.

Pedro lembra também que, nos anos 90, as bandas de sucesso da época vendiam um milhão de discos e se divulgavam através das rádios e da MTV. Uma década depois, uma nova geração (Pitty, Los Hermanos, NX Zero, Vanguart, Fresno, Ramirez etc) estava em evidência e as mídias do momento eram o Fotolog, o Orkut e o My Space. “O Facebook surge uns dois anos depois juntando tudo e enterrando a concorrência. Mas nesse período de 2008 e 2009 a comunicação por e−mail e pelas redes sociais já era muito intensa”, explica.



Outra mudança interessante foi na forma de se produzir os eventos. Se nos anos 90 os shows aconteciam por todos os bairros, de forma bastante eclética, com as bandas de estilos variados, juntando forças e levando elas mesmas os equipamentos, nos anos 2000 há uma segmentação por gêneros musicais, os equipamentos são sempre alugados pelo produtor e grupos novos começam a pagar para abrir shows de grupos já consolidados. “Um dos shows que eu noticiei contava com 14 bandas de abertura para uma banda de São Paulo que tocou em São Gonçalo. Muito diferente dos anos 90, mais romântico, onde rolavam vários shows gratuitos ou com arrecadação de alimentos para a campanha contra a fome, capitaneada pelo Betinho”.

Também vale destacar os diferentes momentos nos circuitos estudantis. Se no final dos anos 90 aconteciam muitas festas de escolas e universidades, inclusive festivais de bandas de colégio, no final dos anos 2000 há uma grande apatia. “Um exemplo está na própria UFF. Nos anos 90 aconteciam muitas festas dentro e fora do ambiente universitário, porém, no final dos anos 2000, mesmo tendo um curso de produção cultural, havia uma repressão interna e menos eventos”. Pedro acredita que isso tenha ligação também com a mudança de motivação principal na noite. “Ali em 1997 já rolam festas com bebida liberada, mas em 2008 o álcool torna−se a atração principal, e os shows apenas um acessório. Daí a proliferação de cervejas do rock, tequiladas do rock etc”.

Uma constatação interessante em coLUNAs é que nos anos 90 surgem as feiras de moda alternativa − como Mercado Mundo Mix e Babilônia Feira Hype − e os festivais de música para promoção de marcas, como o Free Jazz, o Fest Valda, o Skol Rock, o Close Up Planet e tantos outros. “Sem dúvida, nos anos 90 a indústria fonográfica era uma fábrica de dinheiro. Nos anos 2000, o golpe veio com a pirataria de CDs e o declínio do DVD, com a popularização da internet e da TV paga. Antes, para assistir a um show de banda estrangeira, rolavam sessões fechadas e pagas com exibição de fitas VHS raras por aqui”.

O livro coLUNAs, o sexto de Pedro, foi lançado pela sua própria editora e pode ser adquirido pelo ilustrebrasil.com.br

https://www.facebook.com/nomundodoLUNA/

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